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Inacreditável, Preconceito limita o acesso da população LGBTQIAP+ ao transporte público

 lace ruiva e a maquiagem extravagante chamam a atenção dos passageiros no vagão do metrô de Brasília. O top cropped com mangas bufantes, nas cores da bandeira LGBTQIAP , e a sombra nos olhos com o mesmo arco-íris dão o tom de quem é a drag queen Bessha Loka. Naquela noite de sexta-feira, como em muitas outras, ela enfrentou — literalmente — o transporte público para ir trabalhar.

Por trás da persona artística de Bessha Loka há o jovem gay Anderson Viana, 24 anos, que usa a integração entre ônibus e metrô para chegar aos compromissos profissionais e de lazer da drag. E o artista nunca passa despercebido: recebe olhares, elogios e provocações. “Olha lá o viadinho, já vai fazer palhaçada”, “os pais dele devem ter desgosto disso” estão entre as mais comuns. “A mais marcante para mim foi uma vez que estava no ônibus e um homem começou a falar que se ele fosse a morte, ele me matava”, recorda.

O Art 5º da Constituição Federal diz que todos são iguais perante a lei, e o inciso XV assegura o direito de ir e vir do brasileiro: “É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. No entanto, nem mesmo um dos direitos mais básicos de um cidadão é inteiramente assegurado para uma parcela da população.

Preconceito

No Brasil, ainda há pessoas que precisam se esconder ao subir em um ônibus; há casais que se sentem obrigados a sentar em cadeiras distantes dentro de um vagão de trem; e há até mesmo pessoas que são impedidas de entrar em um carro de aplicativo.

Um levantamento inédito feito pelo Correio Braziliense a partir de dados do Ministério dos Direitos Humanos identificou o registro de 200 casos de violações dos direitos humanos contra membros da comunidade LGBTQIAP em ônibus e metrôs entre janeiro de 2020 e junho de 2023. Os números foram obtidos a partir de denúncias recebidas pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, por meio do Disque 100, Disque 180 ou do aplicativo oficial da pasta.

Os dados, no entanto, representam apenas um vislumbre da real situação que a comunidade enfrenta. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva diz que 49% dos LGBT já sofreram algum tipo de preconceito dentro de um transporte público, mas apenas 1% destes denunciou o ocorrido.

A partir deste domingo (23/7), o Correio publica a série de reportagens Viagem cancelada: o preconceito que limita o ir e vir da comunidade, que mostra a batalha dos LGBTQIAPN para se locomover em segurança.

A rotina de uma drag

Em 7 de julho deste ano, última sexta-feira antes da Parada do Orgulho LGBT de Brasília, a reportagem do Correio acompanhou a ida ao trabalho da drag queen Bessha Loka. Percorremos 16,5km durante uma hora e meia para entender como a sociedade enxerga a diversidade no transporte público.

Era noite quando nos encontramos com Anderson Viana, já montado como Bessha Loka. Ao lado da figura de 1,75m, caminhamos cerca de 10 minutos até uma parada de ônibus em Samambaia Sul, onde esperamos por um circular até o metrô. “Gostosa!”, gritou um homem que passava de carro.

Ao entrar no ônibus, Bessha cumprimenta o motorista com um “boa noite”, mas ele vira o rosto e não a responde. Ela senta em uma cadeira enquanto confere o look pré-pronto para o trabalho. Os lábios marcados com um batom marrom escuro, brincos grandes e redondos e um colar igualmente chamativo. Vestida em um moletom preto e uma sandália Havaiana, que seriam trocados por uma meia-calça branca e um salto alto assim que ela chegasse ao Vale Lounge Bar, no Guará.

Desde o momento em que pisou no veículo até sair dele, Bessha foi analisada por cada passageiro. Na estação de metrô, embarcamos em um trem com destino à Central e nos sentamos do outro lado do vagão, onde pudemos observá-la de longe. Dentro do metrô, as pessoas parecem menos incomodadas com a presença da drag queen, mas continuam surpresas por vê-la ali.

Uma mulher se senta ao lado da drag e elogia a maquiagem dela. “Linda”, diz a passageira. Saímos do metrô na Estação Guará e caminhamos até uma parada de ônibus, onde entramos em um circular para o Guará 2 — a última integração até o destino final. No veículo, outra mulher elogia a maquiagem da drag queen, enquanto um homem solta um “linda” ao passar perto dela.

Drag queen Bessha Loka pega dois ônibus e um metrô para chegar ao trabalho
Drag queen Bessha Loka pega dois ônibus e um metrô para chegar ao trabalho(foto: Benjamin Figueredo/CB/D.A Press)

 

Vulnerável

“Posso estar montada parecendo uma palhaça, mas estou vulnerável ao assédio. Eu fico com mais medo de sair montada quando estou bem ‘mulherzona’. Fico com medo do que pode acontecer na rua ou dentro do transporte público. Já tive que bater de frente com um homem que estava sendo ridículo comigo”, relata.

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